segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Roberto I


Você disse para mim: "Eu te amo. E faço isto porque sou egoísta. Porque sei como me faz bem te amar". Respondi: "Eu também te amo. E sinto isso porque não consigo sentir diferente. Porque não sei mais como é não te amar".

A vidinha no interior II


A família está crescendo, Murilo nasce em março, e a consequência disso é uma reforma na casa. Uma parte do jardim vai deixar de existir para dar espaço à ampliação da casa. Nesse pedaço do jardim havia um coqueiro que foi derrubado por uma moto-serra escandalosa e eficiente. A missão foi barulhenta e terminou com uma farra de água de coco. Mais ou menos uma hora depois, quando a moto-serra já estava silenciada e o coqueiro já tinha ido abaixo, o vôo confuso e o canto angustiado de bem-te-vis chamou a atenção: o coqueiro não existia mais! Deu vontade de chorar.

A vidinha no interior I


À 146 km de Salvador, no recôncavo baiano, com aproximadamente 60 mil habitantes, está a cidade que moro desde maio. Eu adoro Salvador, seus "busus" fedorentos, expelindo fumaça preta, o lotado Shopping Iguatemi de véspera de Natal, o Farol da Barra cheio de gringos e prostitutas, o engarrafamento abafado do Rio Vermelho, e também os restaurantes charmosinhos com menu de grandes cifrões, o trem da Calçada e sua vista deslumbrante, os shows de mpb em manhãs deliciosas no Parque da Cidade. Eu adoro! Mas gosto cada vez mais dessa vidinha de interior. Vidinha mansa, sem grandes preocupaões, quase tudo se resolve de bicicleta. Todo mundo se conhece - nem que seja "de vista" -, os semblantes são despreocupados, os hábitos são diurnos, solares, bate-papos descontraídos pontuam sempre as esquinas e, eu suponho, que talvez aqui as pessoas sofram menos de solidão. Mas nasci no Hospital Espanhol, "de frente para o mar", como romantiza Raul. E, coincidência ou não, confesso que ficar longe de praia é a parte realmente ruim dessa vidinha no interior.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Meus vinte e muitos.


Tenho vinte e seis e vivo a sensação de que já vivi tantas coisas! Isso não é propriamente um desânimo com a vida... Ou é? Não, na verdade não acho que seja, porque creio numa infinidade de acontecimentos futuros. Mas tenho a impressão de que já experimentei demais, como se o "amanhã" fosse demasiado parecido com o "ontem", talvez apenas envolvendo uma ou outra emoção nova ou diferente. Já fui, já voltei, já perdi, já ganhei, já enlouqueci de rir, já adormeci chorando, já adoeci, já sarei, já briguei, fiz as pazes, fui amada, detestada, fui burra, a mais esperta, já gritei, já calei, já fingi, já gozei... O que mais falta? Quanto falta? Falta?

domingo, 8 de novembro de 2009

Um coração machucado.


Hoje o meu coração está em pedaços. Mas amanhã... quem sabe?

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Amor.


Como bela desocupada que estou, ando divagando, meditando, refletindo, inclusive sobre o amor. Quase sempre descrevem o amor como algo tão óbvio... Mas o amor não tem nada de óbvio. Aliás, existe algum sentimento que seja óbvio? Minha principal idéia sobre o amor é a sua indeterminação. Sentimos aquele "uau!" dentro do peito e dizemos "amo você". Mas depois não amamos mais. Aí voltamos a amar e desamamos outra vez. Talvez amar seja alguma coisa parecida com uma descoberta súbita do amor ao que já nem se ama mais.

Passarinho.


Estou sentindo meu filho mexendo. A sensação é deliciosa! Sinto movimentos delicados, mas frenéticos, como os movimentos de um passarinho frágil e pequenininho preso nas mãos.

Luciana?!


Sou eu! Estou aqui! E ainda adorando escrever. Mas estava sem "saco", sem ânimo, sem nenhum entusiasmo para pegar na caneta. Sim, sim, isso mesmo: pegar na caneta. Porque nunca, nunquinha escrevo direto no computador. Eu adoro desenhar as minhas letras, rasurar, rabiscar, manchar o papel. Computador só depois do ponto final à caneta. Não que eu tema o teclado ou coisa parecida, até porque até curso de digitação eu já fiz. Bom, quero dizer, "curso de digitação" é uma maneira atualizadíssima de falar, porque o que eu fiz na verdade foi um curso de "datilografia". Creia! Curso de datilografia!!! Coisas de Raul - meu pai. Pois é, eu vivi essa experiência exótica. Eu tinha uns oito ou nove anos, já bastante miope, usava óculos imensos - "fundo de garrafa" -, que só não eram maiores do que aquele trambolho pré-histórico e pesado que minhas mãozinhas infantis mal conseguiam alcançar. A instrutora tinha uns 160 anos, mau hálito e voz esganiçada. Uma tortura! Eu não diria que foi uma experiência necessária, mas Raul entedia aquilo como algo fundamental para meu desenvolvimento. Caneta, teclado, sei não... Aí só Freud para explicar direitinho...

sábado, 17 de outubro de 2009

Bobiou, sambou.


Minha vida não é de samba, nem de fuga, nem de vexame. Minha vida é de calor, amor e realidade. Em minha vida não cabe mais brincar de casinha, e acho que desaprendi a ter indiferença com a tolice alheia. Desconfio que a vozinha do meu juízo andou berrando para mim: "Se segura, morena, que esse samba de doido vai acabar sobrando pra você!" Meu juízo gritou bem alto, ficou até rouco, e eu (ainda bem!) ouvi a tempo. Nesse momento vou remendando meus erros, corrigindo minhas escolhas mal-feitas e reparando alguns danos. Ao mesmo tempo minha barriga se estica, meu filho dança em mim e eu me desmancho de tanto amor. E enquanto você samba, eu vivo.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Eu suspirei bem fundo.


Eu ouvi o seu coração. Foi impressionante. O seu coração! E o meu quase parou de tanto fascínio. Enxerguei você completamente: o corpinho esquisito, os olhos graúdos, as perninhas cruzadas. Perninhas cruzadas! Uma fofura! Você é uma coisa magricelinha e miúda, mas é o trocinho mais lindo que pude ver nessa vida. Quando você crescer e entender um pouquinho desse mundo maluco, eu vou te contar como foi incrível ouvir pela primeira vez o seu coração.

Amanhã eu nem sei...


Meu prazer é inquieto. Tão inquieto quanto meu pensamento. Meu depois está embaçado, não enxergo direito. Meu depois está imprevisível, está incalculável, indescritível, incompreensível... invisível. Meu destino é poeira fina, quase imperceptível... É poeira fina derrotada num paninho úmido.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Ele é o máximo.


Tem braços fortes, olhos escuros, um jeito que derrete e abraço delicado. Ele tem sede de vida, tem energia intelectual, senso de humor e cheiro gostoso. Ele tem amigos adoráveis, tem um filho lindo, tem trabalho de domingo a domingo e tem o melhor sorriso. Ele ganhou o meu amor, conquistou a minha cabeça e dominou os meus desejos. Seu nome é Roberto e ele é o máximo.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Quero compartilhar meu sorriso.


Hoje é aquele dia em que as músicas fazem tanto sentido... Ao longo do dia me arrepio inteira e quase me assusto! Minha cabeça dói um pouco, mas meu pensamento está alerta e meus olhos chorariam amedrontados por tanta alegria. Gostaria que quase nada fosse diferente. O céu me deixa inspirada do jeito que está. Minha cama deu um abraço gostoso em meu sono tranquilo porque estou tratando a minha felicidade com muito carinho. E "agradeço a quem, por amor, traduzir meu mergulho no mar".

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Estou amor do suspiro ao riso.


Eu divido em você e vou me dividindo para você. Me escondi em vão, me entregando inteira, irremediavelmente. Agora eu só divido com você. Não compartilho, não conto, porque os meus amigos estão espalhados por aí, vivendo os próprios amores. E eu vou carregando e guardando essa alegria completa que você me traz, até que - com a saudade apertada - o abraço de um amigo termine em meu rosto revelando o tanto que sou feliz de você.

Há vida no Planeta Tabaco.


Quem nunca se sentiu rejeitado por fumar não mora no mesmo planeta que eu.

Vamos juntos?


E por falar em você - mas quem falou em você? -, eu sempre escrevo por mim, no entanto essas palavras parecem emergir por você. E por falar em sentimento - mas quem citou sentimento?! -, acredito que existe o que é meu, existe o que é seu e já começou a existir o que é nosso. Acho suficiente. Então serei livre como você conquistar e com toda a liberdade que você conquistar.

sábado, 6 de junho de 2009

RG e CPF - atualizados.


Eu sou uma multidão feliz em pleno carnaval.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Um tic-tac desobediente.


Eu não tenho tempo para nada. E nem você. O tempo que estava aqui agorinha, quase firme, bem aqui no meu digital, ou aí no seu analógico, já foi, já era, virou purpurina, fumaça, poeira suspensa incapturável. Acredite em mim: mais tarde é daqui a pouco. Eu simplesmente gostaria que ele, o tempo, fosse mais cavalheiro comigo e me dissesse apenas: "Pode passar em minha frente, senhorita". Eu agradeceria elegantemente a gentileza, e seguiria mais sossegada. Mas o tempo, esse sujeitinho sonso, me toma à força! Me violenta, me invade! E eu, mesmo assim, vivo correndo atrás dele...

terça-feira, 12 de maio de 2009

À minha linda amiga Ary.


Sinto sua falta todos os dias. Às vezes mais, às vezes menos, mas sempre sinto sua falta. De vez em quando converso com você, como se estivesse deitada do meu lado, e consigo ver seu rosto, suas caras, seu jeito de torcer a boca enquanto levanta as sombrancelhas, seu riso de quem sabe muito sobre mim. E daqui de longe me preocupo com você. Tento descobrir com a minha intuição se dormiu bem, se acordou feliz, se há alguma coisa esquentando sua cabecinha. Fico com ciúmes de todos que estão perto de você, só porque eles estão perto de você e eu não. Sinto saudade de compartilhar cigarros com você enquanto conversamos. Os cigarros acabavam e a conversa continuava. Sinto saudade das nossas conversas infinitas, ouvindo músicas que também pareciam infinitas. Eu sinto falta de você.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Essa surpresa.


Eu estou impregnada de você. Dormi mal, mas acordei exatamente assim... Uma alegria esquisita, incontida. Tão real e melhor que qualquer sonho. Já até sinto sua falta e uma vontade de deixar minha mão grudada na sua.

Téo


Te amo tanto e tão completamente que o meu coração pula feliz ouvindo sua vozinha gritando "Luxiana!". Quero ficar sempre perto de você, mesmo quando você não trocar mais o "c" pelo "x", mesmo quando você não fizer mais birra para tomar banho, mesmo quando você não achar mais a menor graça na minha estória da lagartixinha maluca e a mosquinha sabida. Amo você sempre e para sempre.

Que chegue logo o "depois".


Me sinto torta, em erro constante, como aquele quadro na parede que teima em ficar assimétrico. Me sinto infantil, anacrônica, tola e teimosa. Me sinto culpada.

Lobo Mau III


Chapeuzinho passeava distraída ouvindo seu MP3 quando por ela passaram correndo Bela Adormecida, Branca de Neve, Cinderela, Wendy, Fada Sininho e Rapunzel em direção ao precipício e pularam, todas quase ao mesmo tempo, desesperadas de paixão pelo Casanova da floresta. O Lobo Mau chegou esbaforido e, apavorado por perder seu time de bajuladoras, pulou em seguida. Chapeuzinho, aflita, sacou seu celular e ligou para o SAMU, que chegou depressa. Mas era tarde demais e morreram todos. Um suicídio coletivo. Chapeuzinho, olhando o Lobo-bobo espatifado lá embaixo e inspirada em Cazuza, sussurrou: "Seu amor era uma mentira que a minha vaidade quiz". Guardou o celular em sua cestinha e continuou seu passeio assoviando pela floresta.

sábado, 2 de maio de 2009

Tudo de novo novamente outra vez.


Acho antipática a repetição das coisas simples e cotidianas. Aquela barriga vai virar aquele nenem enrrugado, o cigarro vai virar bagana, vai chover em março, sua mãe fará as cobranças de sempre, o maldito vizinho vai ouvir "Vitor & Léo" a terde inteira, a turma vai estar naquele mesmo bar na sexta-feira, o último capítulo da novela das oito não te surpreenderá, seu cachorro vai fazer festa quando você chegar, aquele casal vai terminar o namoro outra vez por causa do Orkut, seu irmão vai falar de novo daquele assunto que te magoa, todo mundo vai comprar aquele celular idiota e toda noite você vai pensar que será bem mais feliz no futuro. Vidinha mais sem graça...

terça-feira, 21 de abril de 2009

Quero ser um tango.


Tangos me fazem quase enlouquecer. Como se a minha pele fosse toda audição, arrepiando-se a cada nota. Ouço e me instalo numa atmosfera desvairada, minha respiração numa música infinita, e às vezes até danço, fingindo acertar os passos. Tango é música de dores vividas com sede e de delícias que alucinam dentro da mente.

Está tudo errado.


Minha mãe tem quase 60, eu tenho 25, ouvimos jazz enquanto ela faz ginástica e eu fumo.

Quando entra mosca.


Têm coisas que dificilmente serão consertadas. Depois de ditas fica tudo de outro jeito, como se existisse uma linha, uma faixa, que quando ultrapassada fica impossível pular de volta. Você passa de amigo a dispensável, de linda a chata, de bacana a otário, num passe de palavras mal calculadas. Risco maior é calar-se?

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Sem rumo


Queria poder estacionar minha vida. Parar, congelar. Enquanto isso eu arrumava minha cabeça. Eu correria por aí sem calçar nada, até machucando meus pés, mas achando graça mesmo assim. Eu choraria ali na esquina, molhada de suor e imunda, vivendo essa sensação. Eu deitaria no meio da rua, o lixo espalhado ao meu redor, divertido-me. Eu olharia para o céu, sentindo o sol esquentar as partes descobertas do meu corpo. Mastigaria quase todas as folhas da roseira que escapa pelas grades daquela casa. Deitada de volta na rua, suja e suada, afogaria minhas mãos em meus cabelos desajustados pelo chão e adormeceria de sorriso grande.

Pagando a língua.


Quando um amigo me confidenciava uma paixão não correspondida, eu não compreendia como era possível se envolver com quem não está envolvido por você. Como suspirar por quem não te olha extasiado? Como é possível desejar ser envolvido por braços que não enlouquecem para te abraçar? Como ter a barriga arrepiada por um olhar que não está vidrado em você? Essa correspondência de sensações e sentimentos me parecia naturalmente necessária. Mas talvez nem seja... Vejo meu coração arrebatado por alguém que simplesmente não sente o mesmo. Não sei como isso foi acontecer! Dividi a minha agonia com meus dois amigos mais íntimos. Avaliaram cheios de certeza que só estou enlouquecendo de paixão por não haver reciprocidade. "Você só quer afogar-se num copo de Coca-Cola porque ele não te dá bola!" Mas isso é um masoquismo tão ridículo! Quero me recusar a crer que eu, euzinha aqui, possa sentir algo tão imbecil. Me sinto idiota, quase grito de raiva.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Caiu na varanda.


Minha vidinha sem graça foi invadida por uma criatura incrível. Doce, gentil, e inteligente. Adimirável. Vem até a varanda e me encoraja, me anima, usando um instrumento peculiar: a Matemática. É, a Matemática, que antes eu apelidava de "mortemática", mas isso era antes. Ando grata por ter um anjo por perto. Discreto, modesto, ele diz que apenas tenta ser um professor razoável. Mas dia desses, enquanto ele passava, eu percebi suas asas, escondidas sob a camiseta pólo.

Lobo Mau II


"Veio até mim,
Quem deixou
Me olhar assim?
Não pediu
Minha permissão!
Não pude evitar,
Tirou meu ar,
Fiquei sem chão..."
(Alec Haiat / Céu)


Era uma vez um Lobo Mau e uma Chapeuzinho Vermelho. Certa vez, sem nem uma vovózinha por perto para censurar-lhes, eles permitiram-se viver delícias profanas. E sempre que se encontravam pela floresta acabavam juntos, sedentos um do outro. Pobre Chapeuzinho: se apaixonou! Ficou perdidinha no charme daquele "lobo-gato", varando madrugadas com seu coraçãozinho quente pelas lembranças das aventuras pela floresta ao lado dele. Chapeuzinho sabe, porém, que a este lobinho o que não falta é concupiscência, um garanhão típico! Depois dele, a Bela Adormecida virou insone. Os Sete Anões perderam completamente a atenção da Branca de Neve, desde a primeira vez que o Lobo a convidou para colher umas maçãs suspeitíssimas. Rapunzel fez promessa para
Santo Antônio e garante que só deixará de passar a máquina zero na cabeça quando conseguir casar-se com ele. Cinderela não quer mais saber de carruagens, castelos, príncipes ou sapatinhos de cristal, vive fazendo esculturas de lobo em abóboras. Dizem que Wendy e a Fada Sininho até hoje não se falam por causa dele, e Peter Pan envelheceu de ciúmes. Chapeuzinho, bobinha, continua suspirando e suspirando por ele. Diz que se apaixonou porque é delicado, mas completamente viril, forte e cheiroso, sabe despertar ternura e desejo, além de ser lindo e ter um cérebro que funciona! Tola Chapeuzinho...

terça-feira, 7 de abril de 2009

Vou morrer de frio.


Minha vida é uma tempestade, um vendaval, um passeio inseguro. O que não significa que seja excitante. A tristeza é minha companheira, anda viciada em mim! Me segue, me cerca, me abraça, dorme comigo. Me sinto em abandono, ignorada. Fico encolhida num cantinho da minha vida, e choro. As lágrimas teimando em fugir dos meus olhos... choro mais. Sinto falta de música alta, de boca feliz, do meu corpo disposto, do meu pensamento rindo-se. Sinto falta de uma voz apaixonada chamando meu nome... Meu coração está gelado.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Idiotices Subterrâneas


A filosofia do otimismo afirma que no fundo do poço tem uma mola. Frequentemente me sinto no limiar da insanidade total, porque sempre me perco nos meus devaneios bêbados, íntimos, surreais. Viajo poço adentro, escorregando na maionese, alheia a qualquer sinal de realidade, isolada no fundo do meu poço. Quando a escuridão é quase completa e chego a sentir a saúde das minhas faculdades mentais ameaçada, percebo a tal mola. Então num impulso violento estou de volta, como num suspiro ofegante depois do "caldo" em uma onda nervosa e salgada.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Lobo Mau I


Não consigo encará-lo sem tremer. Ele é lindo, muito lindo, quase irresistível. Não me disse muito. Me olhou bem sério, me arrepiei, e disse pouco, o suficiente para eu entender o significado daquilo tudo. Sorria, eu derretia, sua boca perto, cigarro, cerveja, hortelã, me beijou... quase desmaio. Delicado, os dedos cheios de carinho, passou sua mão em meus cabelos, em minha cabeça confusa. Nossa vida é complicada, você sabe. Nossa vida às vezes fica sem rumo, você sabe. Nossa vida não está ligada, você sabe. Mas pensar em você me aquece. Quero acordar, quero parar de fumar, quero comprar aquela rifa. Quero tudo! Se ele olhasse o meu rosto agora, veria minha boca pedindo, pedindo sem dizer nada, pedindo para entregar meu coração a ele. Eu quiz dizer eu gosto de você, eu gosto de você, eu gosto de você. Mas tanto faz, eu bem sei.

terça-feira, 24 de março de 2009

Em mim.


Somos um grupo. Eles riem com a boca inteira, os olhos apertados dizendo gargalhadas. Estou exatamente ali, junto, ao lado, dentro, e fico submersa, meus pensamentos têm vontade própria, desobedecem. E continuo submersa. Há momentos em que me apavoro, porque receio ser vítima das armadilhas articuladas dentro de mim. Ouvi dizer que o Diabo é Deus de folga, achei engraçadíssimo. Desconfio que "meu Deus" sempre está atrasado para o expediente, de licença-médica ou de férias. Se a minha vida fosse um ano letivo, eu nunca passaria sem recuperação.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Minha vida é um blog aberto?


O endereço desse blog não foi intitulado "diário" à toa. Eu reconheço todos os clichês de solidão, como me sentir absolutamente só numa multidão, ou estar literalmente sozinha e ter convicção de que ninguém sente minha falta. O resultado disso, em mim, é a necessidade de escrever. Meu choro solitário ampara-se nas minhas "palavras-lágrimas". Não me atrevo a tentar exprimir esse consolo, não sei tornar esse refúgio claro, explicá-lo. E o conforto, que a ação de escrever me oferta, dificulta o cálculo do quanto este doido diário me revela. As visitas por aqui andam multiplicando-se, e me percebo acanhada. Imagino tanta gente "lendo-me" e fico engasgada em timidez. Até receio escrever tendenciosamente... Porém, é um afago ter leitores, é uma lisonja ter gente interessada em meu texto... em mim.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Só e mal-acompanhada.


Mãos agarradas, cheiro no pescoço descendo às costas, cabeça no colo, gargalhada na boca, abraço apertado, pernas sem donos, dedos escondidos nos cabelos, segredinhos sussurrados, desejos cúmplices, olhares íntimos, beijo no mar - salgado no começo, adocicado no final. Beijos, beijos, beijos e mais beijos. Como tudo isso faz falta! Estou namorando a solidão.

Desengonçada.


É, desengonçada. Tropeço e tropeço outra vez. E mais outra. "Bicuda" deveria ser meu apelido por tantos machucados que meus dedos dos pés colecionam. Minhas pernas parecem perseguir os objetos pontiagudos e vão acumulando marcas roxas. Derrubo, quebro. Mas quando danço nenhum pé fica sob o meu... E nem trombo. Deslizo, giro, mole, leviana, suave. Gosto de dançar.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Onde.


Constantemente tenho a sensação de que nenhum lugar é meu lugar. Dentro do mar ou em uma cama comprada para mim. Num encontro animado com amigos queridos ou numa poltrona de avião com destino feliz. Nunca é "ali". Às vezes acho que só moro dentro de mim, como se fora de mim nunca me pertencesse. Estou aspirando caminhos convencionais, mas desconfio angustiada que meu caminho e meu lugar não sejam claros, previsíveis. Para mim o "aqui" nunca é suficientemente confortável e situado. Nunca me sinto instalada ou fazendo parte, estou sempre presente e desvinculada.
"Eu tô sempre me procurando, mas quando me encontro descubro que mudei de endereço."

sábado, 7 de março de 2009

Cecília.


Quando eu era bem pequena e não escovava meus próprios dentes, ela escovou meus dentes com Hipoglós. Mais de uma vez vi seu celular tocar e em seguida ela colocar a caixa dos seus óculos na orelha berrando: "Alô? Alô? Essa coisa não funciona! Está mudo!". Fui testemunha no dia em que ela mergulhou na mala do seu Santana para tirar os sacos de compras de supermercado e, no momento em que tiraria o derradeiro saco, apressada com os afazeres cotidianos, fechou a porta da mala sobre a própria cabeça. Não estava ao seu lado, mas ela me contou logo depois quando bateu a porta do carro com seu dedo dentro e me disse - ainda chorando de dor - que havia puxado e puxado, até que um desconhecido atravessou a rua e disse: "Dona, abra a porta!", e a salvou abrindo ele mesmo. Ela já disse "Feliz Aniversário!" em funeral e frequentemente pergunta para alguma criatura que está acima do peso para quando é o nenem. Sempre que nos encontramos, brincamos de pega-pega e de esconde-esconde. Ela tem os melhores conselhos e também as melhores piadas. Na maioria das vezes ela é caretíssima, mas em algumas é boca-suja. Prepara macarrões, suflês, filés, feijões, cozidos, vatapás e sobremesas divinamente saborosos. Sua casa é uma delícia! Os lençóis são cheirosos, as toalhas limpíssimas, sofás e camas são aconchegantes, e em vários cantos tem jarros com flores perfumadas do seu próprio jardim. Quando recebe hóspedes, enche a geladeira com as paixões de cada um. Seus olhos são verdes e absolutamente sinceros. Sua voz pode dizer qualquer coisa, mas seus olhos sempre gritarão o seu íntimo. É dolorido ficar longe do seu colo, dos seus abraços, dos seus beijinhos, e adoro matar a saudade. Eu gostaria de ter sido sua mãe, de tê-la carregado dentro de mim, de tê-la amamentado, ter segurado suas mãozinhas em seus primeiros passos e de estar perto sempre que ela precisasse ser protegida. Mas se eu tivesse sido sua mãe, ela não seria a minha.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Amigas, amigas, cachorradas à parte!


Algumas pessoas não conhecem a lealdade, ou simplesmente ignoram a sua existência. Amantes traem, são traídos, mas superam isso se abrirem mão do sentimento de "posse do outro". Mas numa amizade é diferente. Não há o sentimento torto de "posse", é como uma irmandade, por isso amigos são naturalmente leais uns com os outros. Retirei recentemente de minha vida uma "amiga" que foi incapaz de ser leal comigo. Como uma putinha de quinta categoria lutando pelos 50 reais do dia, ela ofereceu-se àquele que havia sido meu namorado. Eu havia desabafado com ela repetidas vezes o quanto gostava dele e o quanto sentia sua falta. Como bom macho latino, ele não se fez de rogado e aproveitou-se da facilidade oferecida pela dita cuja. E depois me contou tudo, cada detalhe, inclusive do quanto a achou desinteressante. E do quanto achou constrangedoras suas tentativas de falar negativamente ao meu respeito. Não me surpreendi quando fiquei sabendo de tudo, porque eu percebia que ela tinha vocação para baixaria. Mas eu tinha a falsa ilusão de ter algum tipo de imunidade. Achava que ela era uma cachorra que era minha amiga, mas descobri que ela não passava de uma amiga cachorra.

Tem fogo?


Cigarro acalma, cigarro consola, cigarro faz companhia, cigarro mata a fome, cigarro relaxa, cigarro anima... Maldito cigarro.

segunda-feira, 2 de março de 2009

eu moro, tu moras, ele mora


Nada melhor que viver sob o mesmo teto para amar ou odiar alguém. Ou amar e odiar. Manhãs, tardes ou noites dividindo, compartilhando espaço, barulho, hábitos, comida, só pode acabar em amor e/ou ódio. Aquela sua amiga fala com doçura e tem um jeitinho encantador de sorrir. Que tal conviver com ela nos mesmos metros quadrados? Você não sabe, mas ela fica in-su-por-tá-vel na TPM e antipática quando alguém a perturba durante a novela das oito. Tem também o pai daquele seu amigo: moderno, risonho, culto, educado, carinhoso. "Não existe criatura mais agradável!", você pensa. Que tal usar o mesmo computador e a mesma cozinha que ele? O sujeito é maníaco por sites pornográficos e sempre libera flatos mal-cheirosos enquanto come. Mas você não sabia de nada disso e viveram infelizes para sempre. A convivência pode trazer maravilhosas descobertas. As chances para tanto são menores, porém, perfeitamente possíveis. Tolerância, solidariedade, bom-senso e lá estará o amor brotando delicado no "lar, doce lar". Egoísmo, má-vontade, desrespeito? Dim-Dom! Abra a porta, por favor, que o ódio chegou para morar conosco e trouxe com ele a gritaria, a raiva e o saco-cheio. No entanto se o lar é doce, mas o ódio toca a campainha de vez em quando, aí, com certeza, você mora com a sua família.

Será?


Estado civil? Solteira. Inteligência, charme, boa educação, sorriso naturalmente sedutor, paixão por cinema, voz macia, virilidade, bom-humor, gosto musical semelhante ao meu, coração grande, bom caráter e que seja maluco por mim. Só isso. Será que ando muito exigente?!

Blecaute

Gostaria de saber escrever no escuro. É que quando estou com a luz apagada, palavras e mais palavras pipocam em meu pensamento. O breu ao meu redor é fértil, cheio de conclusões e desejos. Daí eu penso nas pessoas, nos sentimentos que as ligam, nos detalhes que as caracterizam, em suas peculiaridades incompreensíveis. Acabo pensando também nas minhas expectativas, nos meus quereres. E penso no que as pessoas pensam, mas logo enxergo a inutilidade disso... Impossível ter acesso clandestino ao pensamento de outrem. Mas aperto os olhos - por garantia da escuridão - e penso que sei o que povoa o pensamento dos outros, como se eu fosse capaz de entender o breu na luz apagada do pensamento alheio.

"Feliz Natal & Feliz Ano Novo!"

Acho que a caridade é a condição mais emocional que podemos ter. Acho até que é o sentimento que mais nos humaniza. Em mensagens impressas nos cartões de fim de ano estão palavras nada surpreendentes: prosperidade, amor, felicidade... Alguém aí em frente ao computador curte sinceramente receber tais cartões?! Quem recebe um destes com alguma animação ou está sofrendo de carência aguda ou tem um senso de humor inabalável. Comemoro sempre que não me enviam um cartãozinho infame destes. Mas se os recebo, vibro a ausência da palavra "caridade". É que o conteúdo desses cartões tornou-se inexpressivo, sem força alguma. E a caridade, com todo o seu sentido, não pode estar estampada fazendo parte disso. A intenção da caridade tem a beleza do amor mais profundo. Caridade é doação. E não é doação de agasalho, brinquedo ou comida. Não é palpável. É doação de si. É querer visceralmente socorrer mesmo com as próprias mãos amarradas. É olhar um semblante de tristeza e desejar dar um abraço apertado. É ouvir com carinho um sofrimento que não é seu. Ter caridade é abortar "o rei na barriga" para, quem sabe, compreender a própria insignificância.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Respire fundo e pule em seguida.


Minha mãe diz assim (É, sempre ela!): "Luciana, seu mal é a sua coragem!" Eu sorrio, debochada. E com um risinho mal-disfarçado no canto da boca, respondo: "Não, mamãe, não é bem assim..." Só para acalmá-la. É que mamães e papais entram em colapso nervoso quando ousamos, arriscamos, quando pulamos cheios da tal coragem num planeta desconhecido. Mas minha coragem tem valido à pena. Mesmo quando sou arremessada de volta sem piedade. Mesmo quando caio e fica difícil levantar. Mesmo quando me esborracho inteira. Mesmo quando dou de cara com a parede do "eu lhe avisei". E vale à pena, porque minha ousadia é cheia de esperança e tem boas porções de responsabilidade. E seja qual for o desfecho, meu coração berra com sotaque anglo-baiano: "Yes, I tried!".

Passou.


Ontem acordei péssima. Péssima, péssima, péssima. Zonza, esquisita, perdida. O dia estava lindo! Um solzão, o céu azul, lindo. E eu péssima. Vazia. Sentei no jardim, fumei, fumei, fumei e continuei perdidinha. Daí fui até o banheiro e me assuntei no espelho. Um horror. Caí no chuveiro, um banho longo, gostoso. Saí fresquinha, cheirosa e olhei sorrindo, cheia de carinho, para o rosto de todo mundo que estava por perto. Minutos depois já estava gargalhando com alguma abobrinha à minha volta.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Sempre colo os caquinhos.


Como disse minha sabida mamãe: "Minha filha, não se desespere, ninguém morre de amor!" A dor de amor pode ser imensa, parecer até infinita, mas vai passar. Os amores vem e vão, não é verdade? Acho que pode-se viver de amor, mas morrer de amor não deve acontecer fora do universo cênico. Seu coração está partido, despedaçado, mas a vida está boa, preciosa, as alegrias estão ao alcance. A dor de amor se esgota, o coração se regenera, e na alma trato de guardar as lembranças mais saborosas.

Euzinha da Silva


Sinto satisfação em ser do jeito que sou pela primeira vez. Isso só aconteceu agora, vividos 25 anos. Parece que me enxergo melhor... Havia algo em mim que me tornava permanentemente insegura. Insegura em qualquer aspecto. Mas estou tendo a impressão que o sentimento de insegurança pode fazer um tremendo estrago em nós mesmos. A insegurança é um sentimento como outro qualquer, mas não precisa existir, porque faz mal, é auto-destrutivo, impõe dificuldade para enxergarmos como somos realmente. Com esse sentimento nunca somos isso ou aquilo e pronto, somos sempre menos, sempre aquém, e o medo de "ser" angustia, confunde. Dia desses li uma frase (desconheço a autoria) que me levou para uma reflexão muito signifivativa: "Seu caráter é o seu destino". Me sinto satisfeita com o que sou, daí simplesmente sou.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Maçã do Amor


A fidelidade é uma alienação. Parece uma daquelas frases de efeito, mas é uma constatação mesmo. Talvez não uma constatação eterna, mas é a impressão que tenho agora. A velha conhecida sabedoria "seixista" ponderou: "Se eu te amo e tu me amas e outro vem quando tu chamas, como poderei te condenar?" Que esteja claro: a fidelidade em questão neste textinho pretensioso é aquela sexuada, esperada pelos amantes, não a fidelidade entre irmãos, amigos, pais e filhos. "Como poderei te condenar?" Afinal, com todos os nossos sentidos - ou com alguns deles apenas - torna-se irresistível não ser seduzido ou até seduzir. Tem olhar que faz estremecer, tem cheiro que arrepia a pele inteira, tem voz que deixa o coração desgovernado, tem toque que instala vertigens no corpo todo e tem gosto... Ah, o gosto! Tem gosto que furta qualquer possibilidade de auto-controle. E é comum que todas essas sensações sejam provocadas por várias pessoas diferentes e não por só uma, como nos requisitos monogâmicos. Penso que a viabilidade de manter-se fiel se faz em ocultar características extremamente humanas como a imaginação e a sua impossibilidade de limites. Me questiono sempre se o comportamento de fidelidade é equilibrado e feliz ou se na verdade é enrustido e frustrado. A fidelidade que me refiro vai além de um ato concretizado, carnal, porque me remeto também à vontades que não ultrapassam os pensamentos, mas que estão lá, bem guardadinhas no imaginário de alguém. Enfim, acho que "compreendi que além de dois existem mais"...